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sábado, 30 de maio de 2009

Dia a dia tome a sua cruz e siga-me

Lucas 9.23

Clodoaldo Machado

Na época em que Jesus proferiu estas palavras, cruz era sinônimo de morte. Ela marcava o fim da vida de uma pessoa. Era o conhecido método de execução da pena de morte dos romanos. Quando alguém era condenado à morte, era na cruz que a pena era executada. Os romanos ordenavam que a pessoa tomasse a própria cruz e a carregasse até o local da execução.

Os discípulos que estavam ouvindo estas palavras entenderam claramente que Jesus falava sobre morte. Eles compreenderam que Ele estava dizendo que quem quisesse segui-lo deveria ter disposição de morrer. Quanto a isso certamente não houve dúvida.

O fator intrigante nas palavras de Jesus é que a pessoa que tomava sua cruz no método romano fazia isso somente uma vez. Ela tomava sua cruz, caminhava até o local da crucificação, ali ela era pregada e deixada exposta até a morte. Quando a pessoa demorava a morrer, soldados romanos lhe quebravam as pernas, afim de que morresse mais rápido.

Jesus, porém falou de tomar a cruz dia a dia. Ele não estava falando sobre morrer uma vez só, como acontecia na prática romana. Aqui ele está falando de morrer mais de uma vez.

Como pode ser isso? Como alguém pode morrer dia a dia? A morte não é de uma vez por todas?

A resposta é que no método romano a morte era física e Jesus está falando aqui da morte espiritual da natureza pecaminosa. Jesus está dizendo que segui-lo significa estar disposto a levar à morte a natureza pecaminosa todo dia.

No contexto Jesus fala sobre negar a si mesmo, fala sobre perder a vida por causa dele. Tomar a cruz dia a dia significa que nossa natureza pecaminosa tenta viver todo dia e nós devemos pregá-la todo dia numa cruz. Significa que quando estamos seguindo a Cristo, estamos morrendo para a velha natureza e vivendo a nova para Cristo.

Na prática significa que dia a dia temos que dizer não para nós mesmos. Nossos desejos pessoais que desagradam a Deus deverão ser pregados numa cruz. Nossos impulsos de ira, de vingança, de nervosismo deverão ser pregados numa cruz dia a dia. Os pedidos que nossa natureza nos faz deverão ser crucificados. Vontades muitas vezes que aparentemente não são maléficas, Deus pede que sejam pregadas na cruz. Aqueles momentos em que ficamos chateados porque as coisas não aconteceram como queríamos, devem ser pregados na cruz.

O fato é que ao contrário de abrir mão de nossos desejos, nós tentamos nos convencer de que eles não são maus e que eles não nos afastarão de Deus. Tentamos nos convencer de que Deus não se importa com eles.

Aqui vemos claramente a essência de seguir a Jesus. Por isso ele adverte seus discípulos. Não se pode seguir a Jesus e ao mesmo tempo ter satisfeito os desejos da natureza pecaminosa. Corremos o risco de seguir a Jesus e tentar manter viva nossa velha natureza. Por isso muitos erram, pois não entendem que a cada novo dia Jesus está nos convidando a viver para ele, e viver para ele significa pregar na cruz nossos desejos pessoais. Significa que serão apresentadas a nós oportunidades de tomar a cruz e morrer para o “eu”. O apóstolo Paulo entendeu isso muito bem, por isso ele escreveu aos gálatas: estou crucificado com Cristo (Gl 2.19). E aos romanos ele escreveu: “por amor de ti somos entregues à morte o dia todo” (Rm 8.36).

Jesus está então dizendo a seus discípulos: “Querem me seguir? Então estejam dispostos a abrir mão de seus desejos pessoais”. O caminho da vida significa a crucificação diária da natureza pecaminosa. Dia a dia tome a sua cruz e siga-me.

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Fonte: Blog Fiel

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sabedoria! Quem vai querer?

“se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares” (Pv 2.4)

Sempre que há notícia de que se tem ouro em algum lugar, é bem previsível que um grande número de pessoas apareça para procurar esse metal tão valioso. Assim aconteceu aqui no Brasil, na época do descobrimento do ouro na região em que hoje se encontra o estado de Minas Gerais. Muitos homens deixaram suas casas, seus empregos e até suas famílias em busca do sonho de encontrarem muito ouro e ficarem ricos rapidamente.

Hoje isso não é tão comum na nossa realidade. Porém, não é difícil lembrar da corrida do ouro quando vemos uma fila enorme na porta de algumas lojas com o cartaz 80% OFF. Ou, quando vemos algumas cenas dos pregões das bolsas de valores, quando alguma empresa tem suas ações valorizadas instantaneamente, os acionistas ficam extremamente agitados, correndo, gritando, pois não podem perder aquele investimento.

A nossa agitação e ânsia em busca de algo é um medidor claro do quanto aquilo é importante para nós. O ouro fazia homens deixarem suas casas, as promoções fazem pessoas esperarem até horas em filas e um bom investimento na bolsa fazem os acionistas chegarem ao mais alto nível de stress talvez já conhecido.

Fico imaginando se houvesse uma placa na rua. SABEDORIA FREE ou ESPIRITUALIDADE BÍBLICA 100% OFF ou até mesmo PAZ EM CRISTO DE GRAÇA. Qual seria o tamanho dessa fila? Será que precisaria de uma segurança reforçada para evitar tumultos? Será que haveria pessoas na porta esperando que abrisse?

Infelizmente, acho que não. A Bíblia está diante das pessoas, mas elas simplesmente não querem as experiências maravilhosas que o Senhor as oferece. Elas não buscam ao que Deus dá valor da mesma forma que buscam ao que elas mesmas dão valor. Precisamos de uma real inversão de valores. Precisamos saber o que o Senhor valoriza e, assim, buscar isso com todas as nossas forças. E a sabedoria é um grande exemplo de algo que recebe grande valor de Deus. Se a buscássemos como procuramos as promoções, os investimentos ou o ouro...

...“Então, entenderás o temor do SENHOR e acharás o conhecimento de Deus.” (Pv. 2.5)

Em Cristo,

Felipe Prestes

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Mudar ou não mudar?


“O inconformismo geralmente ofende a muitos, e expõe a parte ofensiva ao questionamento pelo menos, e frequentemente a alguma coisa mais séria. O costume é um deus para a multidão, e ninguém pode negar homenagem ao ídolo impunemente.”
A. B. Bruce*

Ao ler uma citação como essa, é fácil lembrar do dito popular: “Não troque o certo pelo duvidoso.” Somos acomodados por natureza. O medo do novo aterroriza mais e mais pessoas. Parece que, quando jovens, pensamos que podemos fazer coisas novas e interferir no mundo de uma forma a torná-lo pelo menos um pouco diferente do que ele é. Pensamos (ou pensávamos, para colocar em uma perspectiva não tão jovem) que podemos (ou poderíamos) mudar, ou tentar mudar, a correnteza do normal.

Então, quando os anos vão passando, a dura face da realidade vai se mostrando a nós. Vemos que o mundo é mau. Percebemos que não há tantas pessoas em quem podemos confiar. Notamos que muitos agem por motivos escusos. Sim, as pessoas tem seus próprios interesses e vivem em torno deles somente. Mudar para quê? É melhor que as coisas continuem do jeito que estão mesmo, pois pelo menos já sabemos como agir diante do que acontece.

Desiludir-se com o mundo é normal. Mas desistir de fazer algo por ele é tudo o que não devemos fazer. Os que estão em Cristo são luz no meio das trevas nas quais este mundo está envolto. Como filhos do Rei, podemos, sim, tentar mudar essa “ordem vigente”.

Afinal, se não tentarmos, quem vai tentar por nós? Idealistas com filosofias vãs, psicopatas pelo meio ambiente ou sectaristas seguidores de religiões idólatras? Todos esses grupos que citei tem algo de positivo: eles não se conformam. Mas suas motivações são vazias e não os levarão a lugar algum.

Que o Senhor faça arder em nosso coração uma paixão pelas almas desse mundo, pelos que ainda são trevas. E o melhor que podemos fazer para mudar o mundo é brilhar a luz de Cristo “para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo”. (Fp 2.15)

Em Cristo,

Felipe Prestes

*Fonte: BRUCE, A. B. O treinamento dos doze Tradução: Daniel de Oliveira. São Paulo: Arte Editorial, 2005.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O que queremos alcançar?

Há uma corrente de pensamento que está na mente de muitas pessoas hoje. Como acontece com as ideologias mais dominantes, os que a seguem não percebem que pensam de acordo com essa filosofia. A hegemonia dessa forma de pensar está refletida nas propagandas, nos filmes, nos livros, enfim, em todos os meios de comunicação. Mas onde é mais fácil perceber essa filosofia é quando ela se torna senso comum.

Que filosofia é essa tão propagada? Ela se chama pragmaticismo, e, em poucas palavras, é um pensamento de que tudo, absolutamente tudo, tem que servir para alguma coisa da forma mais rápida possível. Como perceber essa propagação de que falei? É fácil. Palavras como “metas”, “resultados” e “alvos” estão cada vez mais presentes no nosso vocabulário. Gráficos com setas apontando para cima podem facilmente ser vistas nos outdoors. E a ideia de “sucesso” ronda a mente de todos indistintamente. Não seria errado dizer que, segundo esse senso comum, sucesso é igual a muito dinheiro para uma estabilidade financeira que lhe dê o máximo de conforto.

O problema disso tudo é achar que essa é a forma através da qual devemos todos pensar. “Não vos conformeis com este século.” Esta é a sentença do apóstolo para os irmãos de Roma, que viviam em uma sociedade envolta em pensamentos idólatras e pagãos. A forma de o mundo pensar sempre será diferente da forma bíblica de pensar. Afinal, homens pecadores não redimidos são aqueles que pensam a partir das filosofias do deus deste século.

“Transformai-vos pela renovação da vossa mente.” Essa é a solução para que o nosso pensar seja moldado. Devemos servir para alguma coisa? Claro que sim. Estamos no mundo com um propósito. Caso contrário, viver não teria sentido. O problema é deixar os propósitos, alvos e ideais desse mundo se tornarem os nossos propósitos, alvos e ideais.

Devemos ter a mente de Cristo em nós, e isso quer dizer pensar biblicamente, buscando satisfazer os interesses do Deus a quem dizemos servir “para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade do Senhor.” (Rm 12.2)

Em Cristo,

Felipe Prestes

sábado, 23 de maio de 2009

Como uma criança


"E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus." (Mt 18 3,4)

Sobre o versículo acima, A.B. Bruce* escreveu:

"A característica mais importante da natureza infantil, que consitui o elemento especial da comparação, é sua despretensão. A tenra infância nada sabe daquelas distinções de posição que são resultado do orgulho humano e das recompensas cobiçadas pela ambição humana." (p. 185)

Palavras pertinentes para um mundo que sempre foi cheio de homens sedentos por posições. A vontade de ser maior do que o outro entrou no mundo junto com o pecado. Desde então, os homens se olham a partir de seus patamares. Quanto maior e mais importante, maiores são os privilégios e honras. Essa é a regra debaixo do sol.

Contudo, o Senhor Jesus veio para quebrar paradigmas. E foi isso que Ele fez ao proferir as palvras citadas acima. No reino de Deus, não entram as posições, os títulos e as honras humanas. Não levaremos diploma nem curriculum. As honras no Reino Eterno são dadas à sinceridade de coração daqueles que servem ao Senhor sem pretensões. Os grandes lá são os pequenos aqui. Pequenos, na verdade, todos somos. Mas, no Reino, grandes são os que verdadeiramente se reconhecem pequenos, inábeis para fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus.

O que é importante lembrar é que os que estão em Cristo já fazem parte desse Reino. Portanto, ainda temos tempo para buscarmos ser grandes. Olhemos para as crianças como Cristo olhou para vermos nelas o exemplo de despretensão.

Vivamos para Cristo, e não para os homens.

Em Cristo,

Felipe Prestes

*Fonte: BRUCE, A. B. O treinamento dos doze Tradução: Daniel de Oliveira. São Paulo: Arte Editorial, 2005.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Guiados pelo Espírito

Nós somos seres sensíveis. Isso é indiscutível. Estamos sempre sentindo alguma coisa. Não digo isso somente em relação aos nossos cinco sentidos. Sabemos que a nossa percepção das coisas vai além deles. Temos, por exemplo, uma consciência, e é ela que nos dá aquele “feeling” se fizemos algo errado ou não. Como nascemos pecadores, essa consciência, através do tempo, vai perdendo sua força. Além disso, num mundo com valores invertidos, ou até mesmo sem valores, a consciência de certo e errado vai perdendo cada vez mais espaço para um relativismo ético que só faz a sociedade afundar com a proliferação dos conceitos pós modernistas.

No momento da conversão, recebemos o Espírito Santo de Deus. E é Ele Quem vai usar a nossa consciência para nos mostrar se estamos certos ou errados. Ele nos convencerá do pecado para que não mais andemos como antes, sem freios. Uma vida em comunhão com o Senhor, sendo permeados pela Sua Palavra continuamente, nos ajudará a manter a mente, isto é, a consciência com material suficiente para julgar o certo e o errado, o bom e o mal, a verdade e a mentira, o santo e o pecaminoso, o branco e o preto.

Por outro lado, podemos inverter esse raciocínio, e ele continuará sendo verdadeiro. Sem comunhão com Deus e sem leitura e estudo das Escrituras, nossa consciência carecerá de parâmetros pelos quais poderíamos julgar os fatos. Desse modo, as coisas que ficavam antes em pólos separados começam a se confundir e as barreiras entre o certo e o errado, mais especificamente o santo e o pecaminoso, somem. Quem vive assim peca desenfreadamente. Sim, os muitos pecados silenciaram o Espírito de Deus.

Não andamos sempre com a Bíblia em mãos procurando um versículo para nos orientar se devemos dar um passo depois do outro quando caminhamos. Simplesmente experimentamos o fluir da vida. A solução para uma vida dentro da vontade de Deus, guiada pelo Seu Santo Espírito, é nos encher da Sua Palavra e andarmos perto dEle sempre. Assim, qualquer desvio do reto caminho do Senhor será sentido por nós e, então, nos arrependeremos e retornaremos a trilhar nos Seus passos.

Em Cristo,

Felipe Prestes

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Quanto aos que vivem em pecado

“Se um irmão em Cristo, de acordo com a posição eclesiástica, pode me dizer: ‘Você deve me amar com todo seu coração,’ Posso dizer em resposta: ‘Eu reconheço a obrigação na teoria, mas exijo de você, em troca, que você seja tal que eu possa amar você como a um cristão, mesmo fraco e imperfeito; e sinto ser meu direito e meu dever fazer tudo o que puder para tornar você digno de tal consideração fraternal, por tratar abertamente com você a respeito de suas ofensas. Eu estou disposto a amar você, mas não posso, não ouso, ter relações amigáveis com seus pecados; e, se você se recusa a se separar deles, e praticamente me obriga a ser um participante neles por conivência, então nossa irmandade está no fim e eu estou livre de minhas obrigações’.”
A. B. Bruce*

Sempre foi e será uma luta constante saber disciplinar os que amamos. Não é fácil abrir mão da comunhão com eles. No entanto, se nosso relacionamento com eles afeta negativamente nossa vida espiritual, então o conselho bíblico é nos afastar dos que se dizem irmãos, mas não vivem como tais. Que bom seria se as palavras de Bruce fizessem eco no grande “meio evangélico”, no qual pecados que envergonham o Reino são simplesmente desprezados em favor da multiplicação dos membros. Que o Senhor mantenha firme as igrejas que ainda praticam o ato bíblico da disciplina. E que os que esquecem essa ordenança bíblica tenham seus olhos abertos para o terrível erro em que estão ocorrendo.

"Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes" (2 Ts 3.6)

Em Cristo,

Felipe Prestes

*Fonte: BRUCE, A. B. O treinamento dos doze Tradução: Daniel de Oliveira. São Paulo: Arte Editorial, 2005.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pensar dá trabalho

Por que será tão difícil para nós refletir? Parar diante da rapidez com a qual os ponteiros se movem e pensar. Alguém poderia reivindicar o objeto desse verbo. Pensar em quê? – diriam. E não somente em que, mas para quê? Quanto eu irei ganhar se “investir” meu tempo nesse empreendimento? Infelizmente, somos forçados a raciocinar em termos de cifras.

A correria diária com tantas atribuições a desempenhar, horários a cumprir e metas a alcançar e superar nos prende. Vivemos sob intensa pressão de tudo e de todos. No colégio, os que ainda não chegaram ao ano do vestibular contam quanto tempo de vida ainda tem, pois “no ano do vestibular não há vida”, dizem os professores. Sem falar dos que já estão em ano de vestibular, cujos pensamentos se centram num único foco: evitar o cursinho. Na faculdade, pressões para fugir das provas finais, conseguir o melhor estágio e ser bolsista do mais conceituado professor. No mercado de trabalho, pressões para conseguir ganhar mais e mais e mais. A regra é ser o melhor sempre, não importa em que área.

Com tantas pressões, falta tempo para pensarmos se realmente devemos ceder a isso tudo. Falta tempo para refletirmos se temos que ser o que o mundo quer que sejamos. Falta tempo para nos perguntar se queremos os nossos planos, os planos dos outros ou os planos de Deus. Falta tempo para perguntarmos quem, de fato, somos nós. Falta tempo para saber quem é Deus.

Pensar certamente demanda tempo, que é um material em extinção nos nossos dias. No entanto, uma melhor compreensão do mundo, das pessoas, de nós mesmos e, sobretudo, de Deus nos ajudará a entender que somos mais do que uma multidão sendo levada pela correnteza das expectativas, mas homens e mulheres cientes de sua razão de existência: glorificar ao Senhor.

Em Cristo,

Felipe Prestes

sábado, 16 de maio de 2009

Só um rótulo?

“Um pouco de religião fará uma pessoa passar por muitos testes, mas há um experimentum crucis, que só a sinceridade pode suportar. Se a mente for dúbia, ou o coração dividido, chega o momento que leva as pessoas a agirem de acordo com os motivos que são mais profundos e mais fortes neles.” (p. 141)
A. B. Bruce*

Em tempos de paz e tranquilidade, é fácil manter um rótulo de cristão. No domingo, quando as circunstâncias são previsíveis e os irmãos vão à igreja para adorar a Deus, não é difícil suportar pequenas adversidades. Mas, durante a semana, quando momentos de crise chegam no nosso mundo real. São nessas ocasiões em que agimos sob forte pressão que os nossos sentimentos mais íntimos aparecem e, assim, pode-se perceber se somos crentes só na superfície ou se temos uma fé profunda e sólida em Cristo.

Já vi um pregador dizer que seria interessante se uma perseguição forte contra os cristãos fosse imposta no nosso país, pois assim seria mais fácil saber quem são os crentes de fato e os crentes por conveniência. Parece uma vontade mórbida até, mas é exatamente nos momentos de provação que o Senhor examina os Seus e vê se são verdadeiramente Seus.

“Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele” (2 Cr 16.9)

Em Cristo,

Felipe Prestes

*Fonte: BRUCE, A. B. O treinamento dos doze Tradução: Daniel de Oliveira. São Paulo: Arte Editorial, 2005.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sofrimento... Onde está?


“pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome.” (At 9.16)

Creio que se fizéssemos uma pesquisa dos temas menos abordados hoje no “meio evangélico”, sejam em livros, pregações ou músicas, o topo da lista dos menos mencionados seria ocupado pelo sofrimento pela causa de Cristo. Ouvimos sobre o céu, sobre vitória, libertação, cura, palavras positivas, bem-estar, auto-ajuda. Tudo isso nos dá um ar triunfalista, como se a vida em Cristo significasse somente um “estar bem consigo mesmo e com a sua espiritualidade sempre”.

E o sofrer pela causa de Cristo? E o ter por motivo de grande alegria o passar por provações? Onde estão esses temas? Por que não se encontram nas músicas cristãs que tocam em todos os lugares?

Não gostamos de sofrer. Não precisamos de uma tese científica para provar isso. Mas o verdadeiro discípulo cristão é aquele que vê até mesmo no sofrimento uma forma de glorificar a Cristo. É aquele que se alegra em sofrer pela Sua causa. É aquele que percebe que a sua vida não é sua na verdade, mas do Senhor a quem se entregou por completo não só no momento da conversão, mas todos os dias.

Deus prometeu mostrar ao então Saulo quanto importava sofrer pelo Seu nome. Saulo se tornou Paulo, o grande apóstolo, maior missionário de toda a história e escritor de quase metade do Novo Testamento. Toda essa eficiência e força na obra de Deus devem ter tido seu grande motor no entendimento que Paulo teve de que tudo na vida, inclusive o sofrimento, deve ser para a glória de Cristo, e nisso devemos nos alegrar.

Eu poderia escolher vários versículos para mostrar que Paulo entendeu essa grande verdade da vida cristã. Contudo, creio que um só pode ilustrar o que esse homem de Deus não só escreveu, mas viveu em favor do Senhor:

“Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo.” (2 Co 1.5)

Estar disposto a sofrer pela causa de Cristo é estar disposto a levar a cruz que Cristo nos deu. Quem quiser seguir ao Senhor da glória deve entender e viver essa verdade. Omitir-se de pregar esse ensinamento é se omitir de pregar um ponto basilar da doutrina da cruz.

Em Cristo,

Felipe Prestes

terça-feira, 12 de maio de 2009

Pérolas de A. B. Bruce

Há algum tempo, tenho lido o livro de A. B. Bruce, O treinamento dos doze. Trata-se de um clássico cristão escrito no final do séc. XIX, mas que revela verdades eternas por ter seu conteúdo firmemente baseado nas Escrituras. Como seu título sugere, consiste em lições dadas por Cristo no intuito de treinar os apóstolos. Para isso, o autor analisa vários episódios dos Evangelhos em que o Senhor ensina aos doze instruções para uma vida que O agrade. O livro é um tanto extenso (479 páginas), mas que não por isso se torna difícil de ler. Considero leitura obrigatória para todo crente que pretende realmente obter maturidade cristã.

Postarei aqui algumas passagens a fim de instigá-los a ler essa obra na íntegra, além de servir-nos de ponto de partida para reflexões acerca da vida espiritual.

“O verdadeiro auto-sacrifício cristão significa dificuldade, perda sofrida, não por si mesmo, mas por causa de Cristo, e por causa da verdade, em um tempo quando a verdade não pode ser mantida sem sacrifício.” (p. 251)

BRUCE, A. B. O treinamento dos doze Tradução: Daniel de Oliveira. São Paulo: Arte Editorial, 2005.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Primeiro amor

Na última postagem, um irmão fez um comentário sobre a saudade que tinha do seu primeiro amor. Achei que seria importante, então, postar sobre esse assunto.

Essa expressão “primeiro amor” está em Apocalipse 2.4, quando Cristo fala à igreja de Éfeso o seguinte: “Tenho, porém, contra ti que abandoaste o teu primeiro amor”. A igreja de Éfeso era uma das mais importantes da época. Era, inclusive, uma espécie de referência para as outras igrejas. Antes de falar sua repreensão, Cristo reconhece as obras daqueles irmãos e enaltece o zelo deles pela sã doutrina, pois não suportavam homens maus que se declaravam apóstolos, e não eram.

Isso nos mostra que esses irmãos tinham cuidado no que faziam. Era um povo zeloso das coisas de Deus, que levavam a sério os ensinamentos que a eles foram passados. Era um povo que servia, que devia ter trabalhos pela região. Aos olhos humanos, devia ser uma igreja de sucesso.

No entanto, aos olhos de Deus não era assim. O Senhor estava vendo o propósito que movia o coração daqueles crentes e não estava se agradando. Doutrinariamente saudáveis, eficientes na obra, mas insatisfatórios aos olhos de Deus. Como pode? – poderíamos perguntar. Mas já falei várias vezes e não vou me cansar de repetir. O Senhor não é um Deus de aparências. Aos olhos do mundo, ação certa com motivo errado é louvável. Aos olhos de Deus, os relatórios mais positivos podem ser um desastre, caso o motivo que nos levou a fazer tal obra seja impuro.

Portanto, irmãos, que não sejamos como aqueles crentes de Éfeso no que diz respeito ao que nos leva a servir a Deus. Devemos nos espelhar neles no zelo pela doutrina, sim. Devemos tê-los como referenciais quanto à quantidade de trabalho na obra, sim. Mas que, ao apresentarmos diante de Cristo o que fizemos a Ele, não recebamos uma repreensão como a igreja de Éfeso, mas um elogio como esse:

“Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.” (Mt 25.21)

O primeiro amor é fazer a obra de Deus com uma paixão pela Sua glória somente, o que ajudará a tirar qualquer motivo torpe do nosso coração.

Em Cristo,

Felipe Prestes


P.S. Defendo não uma paixão afetada por acordes que nos fazem chorar, por mantras intermináveis ou por pregações cheias de “poder” e secas das Escrituras. Defendo uma paixão, sim, pela obra do Senhor, pela Sua glória e pelos Seus propósitos, tudo isso embasado na revelação completa que temos acerca dEle, isto é, a Sua Palavra.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Cegos que fingem ver

Logo depois da nossa conversão, é um tanto difícil lidar com uma série de novas situações que são postas diante de nós. Uma dessas dificuldades, talvez a que mais sentimos, é o fato de querermos falar daquilo que aconteceu conosco para todos que estão próximos de nós. O problema é que, na maioria das vezes, não nos querem escutar. E aí vem uma certa frustração, pois as pessoas parecem não entender a dimensão do que estamos falando a elas.

“Estou falando de uma vida eterna de paz em Cristo, e essa pessoa não consegue ver a importância disso?” – é o que pensamos. Depois de um certo tempo, passamos a entender que, no dia de nossa conversão, o Senhor abriu nossos olhos para uma nova realidade, isto é, a esfera espiritual. Passamos a entender que os que não nos entendem estão, na verdade, cegos espiritualmente. E, portanto, nenhum argumento poderia levá-los a entender verdadeiramente o que lhes falamos, a não ser que o Senhor lhes abra os olhos.

Mas há um problema que me preocupa cada vez mais. E esse problema é perceber que muitos dos que já tiveram seus olhos abertos parecem continuar cegos. É exatamente isso. Muitos dos que receberam a visão espiritual de Deus, com a capacidade de poder perceber o que acontece pela ótica dEle, não o tem feito. Parecem continuar a não perceber o que acontece diante deles. São cegos fingem ver.

Que o Senhor nos ajude a manter nossa visão apurada segundo os Seus valores, perfeitamente passíveis de serem conhecidos através das Escrituras, para que ninguém que já vê continue tateando por aí sem perceber a realidade espiritual que está diante de nós.

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1 Co 2.14)

Em Cristo,

Felipe Prestes

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Vontade de Deus?

Muitos dizem que querem fazer a vontade de Deus. Inclusive, essa expressão “vontade de Deus” é um termo coringa, que utilizamos em qualquer situação. Se for a vontade de Deus, se Deus quiser – é o que dizemos. Até aí, tudo bem. O problema é a inclinação que temos de achar que a vontade de Deus é simetricamente igual ao que achamos que é o melhor para nós.

Repetir essas expressões nos dá um quê de espiritualidade diante dos que nos escutam. Contudo, sabemos que o Senhor não é um Deus de aparências, mas um Deus que sonda os nossos pensamentos mais profundos. Ele, e somente Ele, sabe se nós realmente estamos dispostos a fazer a Sua vontade.

Deus pode querer tirar tudo o que você tem, como fez com Jó. Deus pode querer que você apanhe, como fez com Paulo. Deus pode querer que você morra, como fez com Estevão. Será que, quando falamos que queremos fazer a vontade de Deus, pensamos nesses casos?

Um exemplo que me salta aos olhos por mostrar alguém que, sem dúvidas, queria fazer a vontade do Senhor é o de Paulo. Chegando ao fim de sua terceira viagem missionária, o apóstolo sabia que a vontade Deus era que ele fosse a Jerusalém. Isso significava que certamente ele seria preso, espancado e, muito provavelmente, morto naquela cidade. Não só ele como todos os seus companheiros sabiam disso, tanto que muitos deles insistiam para que ele não fosse à cidade ponto de encontro dos judeus, dos quais muitos eram inimigos mortais de Paulo.

Mesmo sabendo disso tudo, Paulo, em seu discurso a alguns pastores, falou o seguinte em um tom de despedida:

“E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações.” (At 20.22,23)

Como Paulo podia ter tanta segurança para se resignar à vontade de Deus dessa forma? É o próprio Paulo quem responde:

“Porém, em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contato que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20.24)

A nossa disposição em realmente fazer a vontade de Deus é diretamente proporcional ao quão preciosa a nossa vida é para nós mesmos.

Em Cristo,

Felipe Prestes

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Leis


Sempre lidamos com ordens. Ainda quando crianças na mais tenra idade, talvez ainda nem sabendo falar, já nos deparamos com ordens do tipo “pare de chorar”, “não saia do cercado, viu”, “é pra comer tudo”. E as ordens (e por que não dizer leis) continuam se desenvolvendo ao longo da nossa vida. As normas do colégio, dos cursos, da faculdade. E vão ficando mais complexas e sérias, como é o caso da constituição cujo descumprimento pode acarretar em consequências bem danosas.

As leis são simplesmente necessárias, uma vez que não se pode confiar em um “bom senso comum” de todas as pessoas da sociedade. Caso as regras não existissem, seria uma questão de pouco tempo para a sociedade sucumbir no mais pleno caos.

Isso prova a necessidade que temos de algo para nos regrar. Infelizmente, as leis humanas são (perdão pela redundância) humanas, isto é, temporais, efêmeras e até duvidosas algumas vezes.

Contudo, sabemos que há uma Lei que não sofre revisões. Ela é fruto de um Governo que não precisa de medidas provisórias para fazer o seu poder ser exercido. Para saber dessa Lei, não se precisa comprar vários “vade mecum”, um para cada ano. Essa Lei está na Bíblia e se trata das ordens de Deus para os homens. É uma lei que não muda e que dura para sempre, exatamente como Seu Legislador.

Essa não é uma Lei que oprime, absolutamente. Ela, por outro lado, liberta aqueles que A obedecem. Nunca seguiremos essa Lei com alguma dúvida no coração, achando que ela poderia ser um pouco reformulada para que pudesse ser viável. A Lei de Deus está aí para que os homens A obedeçam, e isto é tudo. É uma Lei para a qual olhamos de baixo para cima, ou seja, em submissão.

Aos que tem medo de obedecê-La, deixo um depoimento do Seu Legislador, Juiz e Executor:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mt 11.28-30)

Em Cristo,

Felipe Prestes

sábado, 2 de maio de 2009

Ser observado

Há alguns anos aconteceu um boom de programas de TV chamados reality shows. Foi uma estratégia bem inteligente e sagaz, pois não é novidade a vontade que muitos tem de saber da vida dos outros e de interferir nelas. Com os reality shows, esse desejo pode muito bem ser saciado.

Algo imprescindível nesses programas é um número exorbitante de câmeras e microfones. Afinal, o espectador não pode perder nada, e, por isso, os participantes devem ser vigiados vinte e quatro horas. Todos os olhares, gestos, diálogos e até sussurros devem ser registrados para deleite dos curiosos.

O problema é quando pensamos que é só nessas circunstâncias que poderíamos ser observados. Há situações em que nos vemos sozinhos e ponderamos que ali poderemos fazer o que for e ninguém ficará sabendo. Ledo engano. Cremos em um Deus onipresente e onisciente que sabe e vê absolutamente tudo o que acontece muito mais do que qualquer sistema de monitoramento. O Senhor vê muito mais do que imagens e sons. Deus vê até as motivações mais recônditas dentro em nós.

Ser observado pode ser bom ou ruim, depende de nós. Se tivermos algo a esconder (e nos iludirmos pensando que podemos ocultar isso de Deus), então pode ser muito ruim, pois Deus certamente verá e ficará desapontado. No entanto, se tudo o que fizermos for para a honra e glória do Senhor, ser observado será uma benção, uma vez que teremos prazer em expor nossas obras ao Deus a Quem servimos.

Em Cristo,

Felipe Prestes